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O fascismo não é um regime. Ele é um movimento político e filosófico que pode virar um regime. O fascismo emprega táticas e constrói alianças para chegar ao poder e como um Zelig pode se tornar muitas coisas quando o alcança. O que aconteceu na Alemanha de Hitler foi diferente do que se deu na Itália de Mussolini.

Ou seja, ignorar que estamos vivendo em vários países com movimentos fascistas, que têm feito aliança com projetos econômicos ultraliberais, e que isso pode avançar para regimes absolutamente fascistas é má fé de quem está fazendo a análise ou pura ignorância acerca do tema.

A declaração de Paulo Guedes ontem em Washington ameaçando o país com um novo AI-5 se porventura o povo sair às ruas contra suas medidas econômicas é o suprassumo deste fenômeno.

O fascismo atual é um caminho para a implantação do projeto neoliberal mais cruel. Não há como impor esta nova ordem econômica sem força, sem matar cidadãos, sem usar leis duras como a GLO, especialmente em sociedades injustas como as da América Latina.

O capitalismo voraz topou entregar alguns anéis para ter mais dedos. Topou rifar a democracia liberal e trocá-la por projetos fascistas como os de Bolsonaro no Brasil, por exemplo. E está fazendo que outros governantes, antes neoliberais, sigam pelo mesmo caminho.

Piñera no Chile viu que ou fazia isso ou teria que sair pela porta dos fundos do Palácio de la Moneda. O mesmo se deu com Lênin Moreno no Equador. E com Ivan Duque na Colômbia. E é o mesmo projeto dos golpistas da Bolívia e da Venezuela. Que passa por uma associação cega com o trumpismo e Israel.

O fascismo de hoje não mata judeus e ciganos. Mata pobres e imigrantes. E continua matando quem luta e resiste contra eles, como nos anos 30.

A frase de Guedes mostra como será duro 2020. Vai ser um ano ainda pior do que 2019. De guerra nas ruas. Porque o fascismo de novo tipo não vai recuar na imposição do novo regime de sociedade.

Ainda estamos no começo desta resistência e o projeto do bolsonarismo que parecia uma coisa de um bando de doidos cada vez se mostra mais articulado e organizado com este fascismo de novo tipo global.

A saída de Lula ajuda a organizar a resistência, mas pode ser uma armadilha se o movimento social não entender com quem vai disputar o destino do país nos próximos lances.

Eles não estão brincando com as siglas GLO e AI-5. Como não brincavam quando falavam de impeachment de Dilma e prisão de Lula. Como não estão brincando as Forças Armadas do Chile, Equador, Bolívia, Haiti etc e tal.

O que vem por aí é mais feio do que parece. Mas isso não deve ser motivo nem para recuos e muito menos para medos. Ou pior ainda, para cair na tese de que o problema é a tal polarização. Nunca se derrotou o fascismo na história com debates ditos racionais ou convencimento de gabinetes. Foi na luta e com ampliação de alianças. Sem covardia.

*Por Renato Rovai, em seu blog na Revista Fórum

Assine aqui o abaixo-assinado para anular os processos contra Lula