“Arte sensibiliza, mas também provoca pertencimento com a luta”, afirma artista que viveu a Vigília Lula Livre
Tarcísio Leopoldo é do Setor de Cultura do MST, no Paraná, e autor de murais que têm figurado em diversas cenas potencializando a luta política
Quem passava pela Vigília Lula Livre, maior vigilância permanente por um preso político já documentada, nas proximidades da Polícia Federal em Curitiba, se via em meio a um panteão de ilustres personalidades da luta dos trabalhadores do mundo. Entre outros, Hugo Chávez, Fidel Castro, Marielle, Krupskaya, Rosa Luxemburgo, além do Papa Francisco figuravam nas paredes pintadas artisticamente, que sempre recebiam visitante famosos para aquela foto, como o Nobel Da Paz Adolfo Perez Esquivel e o jornalista espanhol Ignácio Ramonet.
As obras de arte vieram das mãos (e da máquina de aerografia) de Tarcísio Leopoldo, que faz questão de dizer que, até ali, não era muralista. A Vigília Lula Livre trouxe mais esta habilidade na vida do então ilustrador. Tarcísio é do Setor de Cultura do MST, no Paraná. Vive no acampamento Dom Tomás Balduíno, em Quedas do Iguaçu e, desde o dia de montagem da Vigília, esteve presente na brigada que chegou do seu acampamento, permanecendo até praticamente o dia da libertação do ex-presidente.
“A arte alcança e sensibiliza outras dimensões para além de um texto, de uma fala. Os traços, as expressões, cores, texturas, o conjunto de uma obra toda interage com o observador e isso pode trazer os mais diversos sentimentos e pertencimentos”, ressalta o artista. Mas, assim como os e as demais militantes em Vigília, o artista também era o organizador, o educador popular, o limpador, segurança, entre outras tarefas que surgiam no intenso cotidiano de luta.
“Tivemos o privilégio de conviver e aprender como se faz a luta com simplicidade, amor e dedicação militante: esse é o nosso querido Tarcísio, artista, militante do MST, que contribuiu imensamente com a luta na Vigília Lula Livre”. As palavras são de uma das coordenadoras da Vigília, Rosane Silva, que continua com entusiasmo: “Fazer e produzir arte neste momento tão difícil que vivemos no Brasil só é possível para quem tem dedicação e um projeto de vida focada no amor, na solidariedade e na defesa de uma sociedade socialista e Tarcísio representa tudo isso”, elogia.
Recentemente, um novo trabalho de muralismo ganhou vida pela inspiração de Tarcísio. Desta vez um mural com a imagem de Dandara dos Palmares e de Roseli Nunes, símbolo da luta pela terra no Brasil. “Eu gosto muito de representar um rosto em grandes dimensões, porque, ao representar um lutador ou lutadora que teve um papel importante na luta de um povo ou de um período histórico, os observadores sentem como se a pessoa estivesse ali presente no ambiente”, ressalta o militante do Setor de Cultura do MST.
Muitas vezes, os traços característicos daquela cultura inspiram o traço do artista provocando uma catarse viva entre comunidade, obras de arte e luta política.“Falando também do pertencimento, ao se conseguir retratar uma cultura, elementos de luta, muitas vezes trazendo características específicas de linhas de traços de um povo, isso é muito forte na identificação, como se aquele determinado povo se reconhecesse. Mexe internamente”, conclui Leopoldo.