Foto - Ricardo Stuckert

LULA LIVRE: GRANDE VITÓRIA DO POVO BRASILEIRO

  1. O mais importante triunfo das forças democráticas e populares, desde o golpe que derrubou a presidenta Dilma Rousseff em 2016, veio com a formação de maioria no Supremo Tribunal Federal referendando a suspeição do ex-juiz Sérgio Moro e a anulação das sentenças contra o ex-presidente Lula. Sua reabilitação eleitoral, derivada dessas decisões, é passo fundamental para o enfrentamento contra o governo neofascista de Jair Bolsonaro e suas políticas.
  2. A atuação da defesa técnica, por sua abnegação, firmeza e lucidez em todas as cortes, desde os primeiros momentos, teve papel decisivo para a vitória alcançada. Os advogados Valeska Teixeira Zanin Martins e Cristiano Zanin Martins foram paladinos de uma longa e exitosa batalha por justiça, para a qual elaboraram estratégia permanente de combate aos desvios judiciais, demonstrando-os através de provas irretorquíveis, tanto nos fóruns institucionais quanto junto à opinião pública.
  3. Esse resultado positivo refletiu também a combinação de três fatores fundamentais, que foram se consolidando a partir das informações difundidas pelo site The Intercept e pela Operação Spoofing: a reação de parte do sistema de justiça, em particular de integrantes do STF, contra a Operação Lava Jato; a campanha permanente pela libertação do ex-presidente Lula dentro do território nacional; a pressão internacional mobilizada por entidades e personalidades de inúmeros países.
  4. A combatividade e a dignidade do ex-presidente Lula, esse tempo todo, foi iluminando e inspirando o trabalho e a militância de todos nós, especialmente nos momentos mais difíceis e cinzentos, quando parecíamos em um beco sem saída.
  5. A primeira fase da campanha começou ainda antes da prisão do ex-presidente, durante o Foro Social Mundial de Salvador, Bahia, entre 13 e 17 de março de 2018, quando veio a ser fundado o Comitê Internacional Lula Livre. Esse organismo, coordenado pelo ex-chanceler Celso Amorim, assumiu a responsabilidade de coletar centenas de milhares de assinaturas para o manifesto “Eleição sem Lula é fraude”, entre outras iniciativas de repercussão.
  6. Com a detenção arbitrária de Lula, em 7 de abril, instalou-se a Vigília Lula Livre. Durante os 580 dias de prisão, essa foi a principal frente de luta, o símbolo maior de nossa jornada. Militantes de vários partidos e movimentos demonstraram compromisso ímpar com a nossa causa, rompendo o isolamento do ex-presidente e trazendo esperança para todos os quadrantes, dentro e fora do país.
  7. Ainda nessa primeira fase da campanha, que se estenderia até a interdição eleitoral definitiva do líder petista, teve grande impacto a marcha de milhares em Brasília pelo registro de sua candidatura presidencial, no dia 15 de agosto, que contou com emocionante participação dos movimentos sociais, em particular do Movimentos dos Trabalhadores Sem-Terra.
  8. Concomitante a essa marcha, tivemos a corajosa greve de fome de sete companheiros, por 25 dias, entre julho e agosto, exigindo que o STF pautasse a decisão sobre o fim da prisão em segunda instância, o que viria a ocorrer mais de um ano depois.
  9. Apesar de tanto empenho e mobilização, contudo, não foi possível reverter a perseguição movida pelo sistema de justiça e a manipulação das eleições presidenciais. Quando ocorre a reorganização do Comitê Lula Livre, em março de 2019, durante encontro nacional no Sindicato dos Metroviários, em São Paulo, o fato é que o povo brasileiro vinha de seguidas derrotas. Depois da derrubada do governo constitucional, da prisão do ex-presidente Lula e da vitória eleitoral de Jair Bolsonaro, o clima era marcado por desânimo, confusão e apatia, mesmo entre as fileiras dos partidos de esquerda e dos movimentos sociais. Havia descrença em dar prioridade à campanha pela libertação do líder petista, maior ainda a desconfiança de que pudesse ser vitoriosa.
  10. O Comitê Lula Livre, nessa nova fase, teve como primeira tarefa unificar todos os esforços em curso para o objetivo que se propunha, estabelecendo forte colaboração com o Comitê Internacional. O passo inicial era convencer as pessoas que realmente existiria uma mobilização constante e organizada. De que era preciso lutar porque vencer era possível.
  11. Apesar das enormes dificuldades materiais e do ambiente inicialmente desfavorável, agravado pela ofensiva permanente dos veículos monopolistas de imprensa, a campanha foi se estruturando e produzindo iniciativas práticas. Sua direção, concentrada na Executiva Nacional, tem sido um exemplo de frente única, predominando sempre a construção de consensos e a disposição pelo trabalho coletivo. O mesmo vale para o secretariado, integrado por companheiros e companheiras que cuidam do cotidiano operacional do comitê. Sob esse espírito, logramos estabelecer sólidos mecanismos de comunicação, organização e mobilização.
  12. A campanha logo instituiu os mutirões mensais Lula Livre, que serviram como datas unificadas para o trabalho de rua e de base, com materiais de divulgação e esclarecimento. Nossa política de comunicação foi ajudando a criar um clima de maior otimismo e engajamento, mesclando informação e emoção, criando um efeito multiplicador por todo o país. A organização conseguiu impulsionar a criação de comitês estaduais e municipais, combinando tarefas práticas de agitação com a formação da militância para enfrentar os desafios colocados à nossa frente.
  13. Além dos mutirões, também foram bem-sucedidas as jornadas mundiais, nas quais se destacaram as iniciativas do Comitê Internacional, animando núcleos da campanha também no exterior, em complemento à articulação de personalidades internacionais, manifestos e abaixo-assinados que repercutissem dentro e fora do Brasil.
  14. Os festivais Lula Livre, além de massificar a causa pela qual lutamos, foram instrumentos de grande potência para cativar parcelas da intelectualidade e do mundo da cultura, colocando a campanha em um patamar mais elevado.
  15. Ao redor das estruturas coordenadas pelo Comitê Lula Livre e o Comitê Internacional, milhares e milhares de ativistas foram tomando suas próprias iniciativas, ampliando o movimento, dando-lhe mais expressão, organicidade e criatividade. A consigna Lula Livre virou uma palavra de ordem conhecida e agregadora, massificada, incorporada ao cotidiano de muitos setores sociais.
  16. A saída do ex-presidente da prisão, no dia 8 de novembro de 2019, foi a primeira vitória obtida pela campanha, de fato estimulada pela revelação das sinistras conversas entre os procuradores da força-tarefa e o ex-juiz Moro. A cena política-judicial começava a mudar.
  17. Lula estava solto, mas não estava livre. Nem mesmo a pandemia interrompeu a campanha, que incorporava uma nova consigna, “Anula STF”. Pelos meios virtuais possíveis, as atividades seguiram adiante, nacional e internacionalmente, buscando criar uma corrente majoritária na opinião pública e reforçar a pressão sobre as instituições do sistema de justiça. Continuaram a funcionar os comitês e a se organizar os mutirões, agora digitais. Seguimos lançando boletins, vídeos e documentários. Mantivemos o trabalho pedagógico. Inovamos em ações de agitação e propaganda.
  18. Os frutos dessa mobilização foram colhidos nos últimos meses, com a anulação das sentenças contra Lula e a devolução de seus direitos eleitorais. Certamente fomos ajudados pelas cisões entre as elites do país, que se refletiram também na corte suprema, mas a vitória somente foi possível porque houve luta organizada de incontáveis pessoas, de todas as idades e geografias, mantendo bem alta a bandeira da justiça e da liberdade.
  19. Mesmo com essa decisiva conquista, porém, nossa missão não está terminada. Ainda pairam ameaças e perseguições contra o ex-presidente, tanto judiciais quanto midiáticas. Precisamos continuar atentos, organizados e ativos. Essa batalha somente irá cessar quando o governo da morte chegar ao seu final e todas as tentativas de criminalização contra Lula estiverem enterradas. Até lá, companheiros e companheiras, a luta continua.

Saudações democráticas

Executiva Nacional da Campanha Lula Livre

São Paulo, 21 de maio de 2021.