O atleta e jornalista do Tutaméia Rodolfo Lucena realizou um feito inédito, numa homenagem pelo aniversário de Lula: gravou num mapa virtual sua corrida, que desenhava o nome “LULA” por 7,6 km nas ruas de São Paulo. A homenagem foi relatada em vídeo pelo próprio Rodolfo (reprodução abaixo).

Confira:

Cada corredor é um artista. Com seu suor e suas passadas, modifica a si mesmo e o lugar onde corre, as pessoas que vê e as que o enxergam, o terreno onde pisa: o movimento constrói um novo estar e um ser diferente, mais elétrico ou mais calmo, mais compreensivo ou mais furibundo –de qualquer forma, outro, ainda que num instante, por instantes.

“Eu gosto de ver gente correndo”, já disse o artista britânico Martin Creed, que há alguns anos montou em uma galeria londrina uma instalação com gente, corredores que saíam em disparada a cada trinta segundos para cobrir no menor tempo possível a distância de oitenta e seis metros. A corrida era o espetáculo, o sentimento, a obra.

Hoje, porém, para além das visões poéticas do esporte e dos atletas, cada corredor poder ser, concretamente, pintor, fazendo de si mesmo artista, pincel e tinta. É o que se chama de arte GPS ou desenho com GPS: o pintor-corredor, munido de um relógio ou qualquer outro equipamento com GPS, enverada pela cidade cumprindo um roteiro pré-desenhado. Ao final, suas passadas pintam num mapa virtual a figura desejada: um coração, um nome, um retrato, um punho erguido em sinal de resistência e luta, uma palavra de ordem ou chamado.

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Com essa habilidade de transformar movimento em figuras, saí na manhã de hoje para fazer um presente com minhas passadas. Pois hoje, 27 de outubro, é o aniversário de Luiz Inácio Lula da Silva, o dia “L”, o Dia de Lula, como muitos já o querem celebrar.

Para ele, minha homenagem de corredor é correr. Correndo, deixo nas ruas de São Paulo um rastro virtual que se transforma em letras, que se combinam em palavra: o nome do ex-presidente –para muitos, nosso próximo presidente. O “Lula” assim construído é gigante, 7,6 quilômetros, para rimar com a nova idade do celebrado, que completa 76 anos.

O percurso começa na esquina das avenidas Brasil e Nove de Julho, metáfora do momento que vivemos em nosso país, o Brasil na forquilha entre dois destinos, tal como são dois os significados da data celebrada na avenida paulistana.

Quando escolhido, o nome da avenida que começa no centro, ali pela praça da Bandeira do povaréu que se empilha nos ônibus, e rasga a cidade até quase encontrar a Faria Lima dos banqueiros, arrivistas e até barões da indústria, queria homenagear os antepassados desses últimos, os golpistas que tentaram derrubar Getúlio Vargas em 1932. Mas o povo brasileiro lembra outro 9 de Julho, o de 1917, quando operárias e trabalhadores de São Paulo se insurgiram durante a primeira greve geral que o país conheceu. Hoje, na cidade, a data é festejada como Dia da Luta Operária.

Partindo do cruzamento-metáfora, corro em disparada pela Brasil até a Brigadeiro Luís Antônio, por onde sigo acelerando até a rua Estados Unidos. Formo, assim, o primeiro “L” do nome do ex-presidente. Para fazer a primeira letra, correr bastante, forte, vigoroso, é fundamental para o desenho virtual, pois os rastros que meu corpo deixa no mapa eletrônico são coloridos: amarelo e vermelho indicam velocidades mais altas.

Por contraste, então, caminho todo o percurso da segunda letra, o “U”, que vai ficar azulado/esverdeado no mapa virtual. E assim, quilômetro a quilômetro, caminhando e correndo, monto a palavra.

Ao mesmo tempo artista, tinta e pincel, completo minha arte GPS bem no centro, no corredor central da avenida Paulista, quase em frente ao prédio da Gazeta, lugar histórico de manifestações populares, dos grandes atos de protesto à corrida de São Silvestre. Para mim, tem um gosto particular, especial: ali começamos e terminamos duas corridas “FORA TEMER!”, que ajudei a organizar com o grupo Corredores Patriotas Contra o Golpe.

A montagem do percurso foi obra de vários dias, muitas corridas, desenhos no mapa, imaginações. Toda a equipe TUTAMÉIA de Corridas –Eleonora, Laura e Claudia, além de mim—deu seu palpite, crítica, sugestão.

Antes de tudo, a distância precisaria ser razoável. Já estou correndo razoavelmente bem, sem muitas dores, mas não posso exagerar pois que senão o corpo velho retorno. Tenho feito treinos de mais ou menos sete quilômetros, não queria passar dos dez no total. Então a área pintada com passadas precisaria ser razoavelmente perto de casa, para que eu pudesse ir e voltar correndo —além de fazer o percurso, é claro.

Pela sua formação, lá no século 16, pelo desenvolvimento desordenado, pela especulação imobiliária e sabe-se lá por quais outras razões, as ruas de São Paulo, como a cidade, são uma bagunça. Tortas, cheias de curvas, desequilibradas mesmo. Pinheiros, na zona oeste, tem um trecho que foge a esse padrão; ao contrário, um pequeno conjunto de ruas que se cruzam forma uma matriz bem desenhadinha, belo plano cartesiano, talvez diga algum matemático.

Lá, há exatamente um mês, desenhei o primeiro “Lula” completo no mapa –antes, havia feito uma experiência nos Jardins produzindo um “L” em arte GPS. Ficou gigante, com quase nove quilômetros –8,72 km, para ser preciso. Também ficou um tanto disforme: o “A” aparece bem desenhado, mas desproporcional às demais letras; o segundo “L” é gordo demais, com a base tirando a necessária elegância. E, claro, o tamanho total era um impeditivo, acima dos 7,6 km desejados para rimar com a nova idade do presidente Lula.

Passei horas sobre os mapas virtuais, imaginando caminhos, testando locais. Cheguei enfim a montar um quadrilátero bacana, fechado pelas avenidas Brasil ao sul, Paulista ao norte, Nove de Julho a oeste e Brigadeiro Luiz Antônio a leste. O perímetro tem cerca de seis quilômetros; imaginei que desenhando nessa enorme tela feita de ruas chegaria à distância desejada.

De fato, meu primeiro teste real, no dia 4 de outubro deu 7.680 metros. De novo, o “A” destoava do conjunto, mas tinha jogo. Imaginei que um desenho um pouco menor possibilitaria criar a palavra mais bem ajustada.

Uma semana depois, novo teste: letras equilibradas, distância exata. Quase sem tirar nem pôr, é o desenho que fiz hoje.

Comecei na encruzilhada do Brasil, me despeço na avenida Paulista, para onde espero voltar em breve, em segurança, para grandes manifestações com Lula e todos aqueles que desejam um Brasil livre e soberano, com saúde, trabalho e justiça para todos.

Vamo que vamo!

Publicado originalmente no Tutaméia.