O Comitê Nacional Lula Livre realizou neste sábado (30), o 1º Mutirão Digital Lula Livre, onde foram debatidas os principais problemas do Brasil no enfrentamento à pandemia, os efeitos do isolamento social na vida das pessoas e o grave momento político do país, que tem à frente um governo que despreza a vida, a saúde, a ciência e a democracia.

O programa foi divido em quatro blocos e temas. Na abertura, Paulo Okamoto, coordenador do Comitê Lula Livre e presidente do Instituto Lula, lembrou que o próximo passo da campanha é a anulação dos processos do ex presidente, tendo em vista os crimes cometidos pela Lava Jato na condenação sem provas de Lula.

Lula pede campanha por Brasil Livre

Durante o encontro foi exibido um vídeo em que o ex presidente Lula agradece a iniciativa do Mutirão por Lula Livre, mas ressalta que, nesse momento, o mais importante é uma campanha Brasil livre, “porque essa governança de Bolsonaro é ditatorial, ele ameaça as instituições, ao Congresso, à sociedade, às pessoas, está se criando no país uma dinastia política, porque eles estão se preparando para dar um golpe nesse país. É preciso dizer chega, porque ele só defende sua família, seus amigos, seus asseclas.”

Lula também diz que não está longe o dia em que será provado que Moro e a Lava Jato foram mentirosos em suas ações e estavam a serviço dos Estados Unidos, de quem Bolsonaro é fiel seguidor, para dar um golpe no Brasil.

::: Assista à íntegra do Mutirão :::

Resistência e organização comunitária na pandemia

No primeiro bloco, Resistência e organização comunitária na pandemia, foram convidados para desenvolver o tema, Cleide Alves, presidente da UNA – associação de moradores da comunidade de Heliópolis e Danilo Pássaro, do Movimento Somos Democracia, da torcida Corintiana.

Cleide Alves explica que, mesmo antes da pandemia, a situação na comunidade de Heliópolis já estava difícil, com 20% da população desempregada e 40% na informalidade. “O impacto nessas pessoas foi imediato. Saímos às ruas com carro de som avisando que era para todos ficarem em casa, mas aí percebemos que iria faltar comida. E o auxílio emergencial demorou a chegar. Tivemos que nos organizar para recolher doações e distribuir para os mais vulneráveis, porque o governo defende a morte, não a vida.”

A testagem da população, limpeza das ruas e becos e abrigos para os que estiverem contaminados poderem se isolar são apontados por ela como formas de poupar vidas na comunidade. Outro problema apontado é a disseminação de notícias falsas, que confundem a população sobre as formas de cuidado e prevenção. “Até o presidente falar que é uma gripezinha, estavam todos isolados, depois, voltaram os bailes funks e o movimento nas ruas. É um desserviço do governo.”

Movimento Somos Democracia

Conhecida por seu posicionamento político em vários momentos do Brasil, a torcida corintiana tem se levantado em defesa da democracia, nesse momento marcado pelo autoritarismo. Danilo Pássaro, do Movimento Somos Democracia, também considera que a pandemia só tornou mais evidente a grave crise política que o país já enfrentava. “Bolsonaro tem utilizado a pandemia como uma forma de garantir seu projeto autoritário. Já está ocorrendo um golpe no Brasil, não é apenas uma tentativa”, alerta.

Apesar de as torcidas não terem um objetivo político, Danilo reitera que “nós do Corintians, fizemos campanha contra o Bolsonaro e somos contra essas manifestações que exaltam a ditadura. Revolta ver o nosso luto e nossas mortes serem ridicularizadas e é contra isso que estamos dispostos a nos opor. A saída é em direção à democracia e à dignidade humana.”

Moro x Bolsonaro ou farinha do mesmo saco?

No segundo Bloco o debate foi jurídico e sobre a atuação da imprensa. Para Carol Proner, jurista e professora da UFRJ, membro da Associação Brasileira de Juristas pela Democracia (ABJD) e parceira na campanha Lula Livre, Sérgio Moro é responsável direto pelo governo Bolsonaro, através da atuação e perseguição que a Lava Jato impôs ao governo do PT.

A jurista considera que o ex ministro teve uma saída humilhante do governo, confessando crimes que precisam ser investigados.

“Entramos com representação no conselho de ética da Presidência da República, apontando três crimes diretos de Sérgio Moro: o pedido de pensão para a família, que não existe previsão legal, sendo claramente uma vantagem indevida; a promessa de indicação ao cargo para o STF; e atos ilícitos enquanto exerceu o mandato, pois ele afirmou que sabia os motivos das denúncias que fez ao sair do governo, ou seja, então devia ter denunciado enquanto era ministro. Moro tem que ser responsabilizado pelo mal que fez ao país”

Impeachment de Bolsonaro

Até agora já foram apresentados 38 pedidos de impedimento de Bolsonaro, um recorde para um ano de mandato. As fontes são variadas, de pessoas físicas, partidos e organizações sociais. O último pedido apresentado foi assinado por sete partidos de oposição e 400 entidades.

Carol Proner explica que é tão grave um impeachment sem crime de responsabilidade, como foi no caso de Dilma Roussef, quanto um crime de responsabilidade sem impeachment, como é o caso de Bolsonaro. “Temos que ter esse processo político porque é o mandamento da nossa Constituição.”

Ela cita os motivos que podem levar ao impedimento da chapa Bolsonaro-Mourão: as Fake News que garantiram a eleição, os vícios da campanha, que deveriam estar sendo julgados junto com o inquérito das Fake News, e a influência de Sérgio Moro e da Lava Jato que levou a esse resultado no pleito de 2018.

A divulgação da reunião ministerial do dia 22 de abril, é tida pela jurista como um “show de crimes de natureza política e engrossa o caldo do impeachment”.

Ela ressalta que as manifestações da sociedade vem crescendo e isso também é um termômetro para mostrar que é possível tirar Bolsonaro da presidência. “Vemos a sociedade se manifestando com abaixo assinados, a imprensa também tem se posicionado, vemos uma união para frente, vamos tirar Bolsonaro”, conclui.

A imprensa e a centro-direita rachadas no apoio ao governo

Na visão do jornalista Rodrigo Viana, há um racha político no Brasil nesse momento: a centro direita tradicional, com partidos como o PSBD, o Democratas, os setores financeiros, a rede Globo, e os empresários, além do Moro e da Lava jato, se aliaram ao neofascismo brasileiro, bem representado pelo bolsonarismo.

“Como viram que não dá mais para apoiar o Bolsonaro, a Globo protege a imagem do Moro porque ele pode ajudar a derrubar Bolsonaro, sem que isso represente uma vitória para a esquerda.”

Mas Rodrigo explica que na política econômica não há contradições: “Na cobertura da reunião ministerial do dia 22, a globo poupou o Paulo Guedes. Significa que eles continuam defendendo o mesmo projeto econômico.”

O jornalista também avalia que a saída de Moro do Ministério da Justiça, facilitou para a Globo bater em Bolsonaro. Além disso, o fato de as empresas retirarem seus jornalistas do cercadinho em frente ao palácio da Alvorada, também mostra que há um racha no bloco de apoio da imprensa a Bolsonaro. “A mídia toda apoiou o golpe contra a Dilma, que também esteve unida para defender a Lava Jato, o Moro e a prisão de Lula. Agora eles estão contra Bolsonaro, só restando o SBT e a Record no apoio ao presidente.”

Salvar o povo para salvar a economia

Para debater o tema do terceiro bloco, foram convidados Eduardo Moreira, economista e Grazielle David, especialista em Economia da Saúde.

Para Eduardo, não há novidade na linha do governo Bolsonaro durante a pandemia. O que acontece é que ele resolveu dobrar a aposta nessa conduta de enfrentamento às instituições e desrespeito à democracia. “Aquela reunião ministerial revela a maldade desse governo, que não se preocupa em nada com a gestão do país.”

O economista aproveitou para anunciar a hashtag lançada por ele lembrando que a maioria dos brasileiros é contra Bolsonaro. “Se ele tem 30% de apoio, nós somos 70%, somos a ampla maioria. Eles falam como se fossem maioria, mas Paulo Guedes é minoria, nunca escreveu um artigo de respeito, nunca escreveu um livro, nunca teve um posto importante, ele está nesse governo porque é o único que aceitaria esse papel, porque ele e Bolsonaro são um governo só. Mas nós somos 70% e temos o direito de falar como maioria, com firmeza e sem agressividade. Eles não podem levar ao limite nossa capacidade de sermos alegres e de ter esperança.”

Para Eduardo, a redistribuição de renda tem que ser feita agora, pois da forma como o PIB está distribuído no Brasil, vai aumentar ainda mais a extrema pobreza. Segundo ele, os bilionários lucraram com a crise de 2012 a 2019. O PIB encolheu, mas a fortuna deles aumentou de R$ 250 bilhões para R$ 1 trilhão e 200 bilhões. “Se não reagirmos a tanta coisa ruim, é porque não somos mais uma nação. A última esperança que a gente tem é derrubar Bolsonaro, para então, podermos dizer que somos uma sociedade, uma nação.”

Economia da Saúde

Seguindo o debate sobre economia, na visão da especialista Grazielle David, a recente queda no PIB a 1,5% ainda não demonstra o tamanho da crise econômica do país. “Nos próximos dois trimestres os efeitos da pandemia ficarão muito mais evidentes, a previsão é de queda de 7% a 10% nos próximos meses.”

Grazielle ressalta que esse cenário denota que medidas governamentais são essenciais para a revitalização da economia. Para ela, o dilema entre defender a vida com o isolamento e garantir a alimentação, não deveria existir. “É responsabilidade e dever do governo, garantir o direito à vida e direito à renda, essa é a questão. O PIB não é central, o elemento de análise agora não é a queda do PIB. Os demais países estão garantindo a sobrevivência da sociedade, porque sabem que é mais fácil se recuperar economicamente. O Brasil, com esse falso dilema entre economia e saúde, vai na contramão disso.”

Como fazer a conexão do povo com a economia

Grazielle explica que a Economia deve dialogar com a forma como as pessoas querem viver e esse anseio deve pautar a organização econômica. Para ela, a crise no Brasil envolve quatro aspectos: uma crise sanitária em que estão morrendo mais de mil pessoas por dia e mortes que poderiam ser evitadas; a crise econômica – porque o governo coloca a perspectiva de que é possível salvar a economia sem levar em consideração as pessoas; a crise climática, que está chegando devagar, mas vai impor suas condições; e a crise política.

“Corremos o risco de viver uma austeridade autoritária, uma autoridade seletiva, que dificulta a renda básica e quer encerrar o pagamento em três meses, dificulta o empréstimo para as pequenas e médias empresas , mas libera crédito para as financeiras de forma rápida e segura. Já passou da hora de o setor da economia também se levantar desse conceito. A Economia precisa ser mais integrada, mais redistributiva, verde e que garanta direitos”, finaliza.

O Brasil unido contra o Coronavírus

Para desenvolver o tema O Brasil unido contra o Coronavírus, foram convidados o psicanalista Christian Dunker, a cientista Jaqueline Goes de Jesus, que faz parte da equipe que sequenciou o genoma do Covid 19 e o ex-ministro da Saúde, Arthur Chioro.

Ao iniciar os debates, o psicanalista Christian Dunker avalia que o negacionismo pregado pelo governo Bolsonaro na pandemia apenas evidencia o tipo de governo que estamos enfrentando. “O governo apenas acentua a política que já estava em curso, que é deixar morrer, não se importando com as políticas públicas”. Para ele, também, a morosidade na elaboração de estratégicas, o desmonte das universidades, a agressividade com o setor científico, o fato de Bolsonaro colocar em dúvida a ciência, é parte dessa estratégia de morte. “Parece falta de eficiência, mas quando chegamos mais perto vemos que é uma política de deixar morrer, é a necropolítica.”

Quem seremos depois da pandemia? Quando perguntado que tipo de pessoas seremos depois da pandemia, o psicanalista avalia que há duas possibilidades: uma é aumentar o egoísmo e o individualismo, onde o outro será visto como perigoso. “Vou me isolar mais ainda, vou tentar me salvar? Se for isso, vai gerar um pós pandemia mais egoísta, mais xenófoba.”

Por outro lado, diz ele, está posta em evidência a oposição entre vida e economia. “Quer dizer que a economia é incapaz de cuidar das pessoas? Reflexões como essa vão formar o tipo de sociedade que vamos ter depois.”

A importância do sequenciamento do genoma para o combate ao vírus

Em sua fala, a cientista Jaqueline Góes, que faz parte da equipe que sequenciou o genoma do Covid 19 no Brasil, explica que sequenciar é entender as mudanças e adaptações feitas pelo vírus e como o surto vai se encaminhar nos próximos passos. A principal característica do Coronavírus é a alta transmissibilidade. Como a taxa de contaminados que não apresentam sintomas vai de 75% a 80%, muitas pessoas que não se reconhecem como doentes aumentam a dispersão nas comunidades.

Isso explica o fato de o vírus ter se espalhado tão rapidamente em 138 países, incluindo o Brasil. “É por meio do isolamento que reduzimos o número de contágio, permitindo que o sistema de saúde possa atender aos infectados e todas as outras doenças que continuam a acontecer.”

Sobre a mutação do Coronavírus a cientista explica que, em termos científicos, o vírus é o mesmo, mas ele tem a característica de adquirir e fixar mutações. “O vírus varia de duas a três mutações por mês. É o mesmo vírus, mas ele tem marcas nos genomas dos locais onde passou. Ao sequenciar o genoma a gente consegue traçar o caminho desse vírus.”

Jaqueline também explica que o clima não tem influência na biologia. Ele vive muito bem na temperatura corporal que é de 36 a 37 graus. Para que se tornasse inativo, teria que ser exposto a temperaturas muito mais altas.

Sobre uma possibilidade de cura, ela diz que a falta de homogeneidade nas ações governamentais de combate ao vírus dificultam o seu controle. E as vacinas só devem sair em 2021 ou 2022. “Mas para ela ter abrangência, depende dos fatores econômico e de logística para que a imunização em massa possa acontecer.”

A flexibilização do isolamento

Apesar de o Brasil ter superado a Espanha em número de mortos, de ser o quinto país com maior número de vítimas e pelo quarto dia seguido apresentar mais de mil mortes, está havendo um aumento da flexibilização do isolamento social no país.

Para o ex ministro da Saúde, Arthur Chioro, isso demonstra que, para o governo, a vida não tem valor. “Os processos de flexibilização do isolamento começaram a ser tomados quando estávamos reduzindo a taxa de transmissão. A curva epidêmica ainda está em franca explosão.”

Para ele, os governantes estão liberando o comércio por pressão empresarial e já de olho no calendário das eleições municipais. O sistema ainda está sobrecarregado, o Ministério da Saúde não fortalece as políticas de enfrentamento e há uma desmobilização do sistema de saúde nos estados.

Chioro ressalta que a atenção à saúde básica e o Mais Médicos, foram destruídos pelo ex ministro Luis Mandetta, a serviço de Bolsonaro. “Ele poderia ter convocado as universidades e pesquisadores do país para trabalhar nos exames de biologia molecular, mas não foi feito, o resultado é que só testamos casos graves. Podemos ter de 10 a 15 vezes mais casos que os notificados.”

Outras medidas que deveriam ser coordenadas pelo Ministério da Saúde são citadas pelo ex ministro como fundamentais para a redução de mortes, como a utilização do setor industrial na fabricação de equipamentos de proteção, ampliação do número de leitos e qualificação de profissionais para enfrentar o vírus. Ele também critica a ausência de políticas públicas para os mais vulneráveis, falta de abrigo para os que não conseguem fazer o isolamento sem desproteger suas famílias ou local receber os casos leves até passarem os 14 dias mais críticos.

“O Ministério da Saúde está sendo conduzido hoje por pessoas que não tem nenhum conhecimento sobre saúde pública, não tem experiência com o diálogo entre estados e municípios para fazer ações coordenadas. O Ministério está pronto para ser entregue ao centrão a qualquer momento”, avalia.

Chioro finaliza sua participação alertando para as três frentes que o Brasil precisa enfrentar: a emergência sanitária, a imensa desigualdade social e a crise política. “Temos um Ministério da Saúde acéfalo no meio de uma pandemia. O SUS se contrapõe ao próprio presidente, por isso ele tem essa postura de desprezo pela área da Saúde.”

Mutirão Cultural e Lei de Emergência Cultural Aldir Blanc

No 5º e último bloco foi apresentado o Mutirão Cultural, com a presença das cantoras Doralice e Bia Ferreira, do cantor Sebastian (Banda Francisco El Hombre), as atrizes Raquel Ferreira e Guta Stresser, e as deputadas Jandira Feghali (PCdoB/RJ), relatora da Lei de Emergência Cultural Aldir Blanc, aprovado na Câmara semana passada e que garante auxílio emergencial para os artistas e trabalhadores da cultura, e Benedita da Silva (PT/RJ), autora da Matéria. Também, a presença de Lecy Brandão, que além de artista é deputada do PCdoB, em São Paulo.

Todos os presentes nesse momento do Mutirão comemoraram a aprovação da iniciativa que vai auxiliar aos trabalhadores da cultura durante a pandemia. “A cultura é a primeira área atingida pelo isolamento social e pelas questões econômicas. É uma grande felicidade para nós termos aprovado esse projeto”, afirma a deputada Benedita da Silva.

O projeto vai para análise do Senado, caso aprovado, vai para a sanção presidencial.

Como transformar tristeza em esperança

No encerramento, uma mensagem do pastor Henrique Vieira – “A espiritualidade respeita a adversidade humana, a consciência política, o amor como atitude revolucionária e solidariedade como valor humano, porque ela cria uma horizontalidade emancipadora para que cada ser humano tenha liberdade e condições para ter dignidade da vida. Esse é o caminho da esperança, o caminho do amor ao próximo.”

70 páginas parceiras transmitiram o Mutirão Lula Livre, durante três horas e cinquenta minutos. A apresentação foi de Talita Gali e Nina Fidelis.

Para assinar o abaixo assinado pela anulação das condenações de Lula acesse: clique aqui.