Foto: Valmir Fernandes

“É muito emocionante estar aqui, mas só mostra a brutalidade do sistema sob o governo capitalista, e que o judiciário pode ser completamente parcial”. A frase é do sul-africano Moleko Pakhedi, após conhecer a Vigília Lula Livre, em Curitiba. Ele é vice-presidente nacional do Partido Socialista Revolucionário dos Trabalhadores da África do Sul (SRWP) e vice-secretário geral da Federação Sul-africana de Sindicatos (Saftu), e esteve na capital paranaense no dia 4 de setembro.

O líder conheceu todos os espaços da luta pela liberdade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva nos arredores da Superintendência da Polícia Federal, na região norte de Curitiba, onde Lula é preso político desde o dia 7 de abril de 2018.

“Eu fico muito encorajado e tenho muita gratidão ao povo brasileiro por essa resistência e pela campanha pela liberdade de Lula. O trabalho que vem sendo feito pelo MST é muito valoroso, não tem como medir”, enfatizou, se referindo à presença permanente e numerosa do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra na Vigília.

Pakhedi classificou como “um pesadelo” o fato de um líder da classe trabalhadora estar na prisão, apesar dos inúmeros problemas revelados no seu julgamento. “Não exitamos em fazer uma campanha pela sua liberdade, e vamos continuar fazendo isso. Estamos organizando marchas e petições na África do Sul, como parte do programa da Assembleia Internacional dos Povo, fazendo o chamado para que ele seja libertado”, explicou.

“Eu tive o privilégio de conhecê-lo [Lula] quando ele veio pro Sul da África e falou para o nosso comitê executivo. É um momento que todos nós levamos com muito carinho como revolucionários”, disse. Lula é considerado um exemplo de liderança popular: “Depois que a gente viu o que ele fez com o Brasil e a similaridade entre os dois países, a gente ficou muito inspirado”.

O congresso da Federação Sul-africana de Sindicato chegou a aprovar o “Momento Lula”, nome usado para expressar os temas relacionadas ao enfrentamento à pobreza, à desigualdade e ao desemprego.

Neo-colonização

Moleko Pakhedi avalia o capitalismo como um “sistema de ferro” que está entrando numa crise muito intensa e sem saídas reais, e que a África vive uma “regressão”, a exemplo do que ocorre no contexto global. “Há um avanço de governos de direita, governos que se submetem ao FMI e a essas grandes agências mundiais, às demandas das corporações internacionais e aos interesses capitalistas”.

Ao se referir especificamente ao contexto da África do Sul, explica que o cenário é de “neo-colonização”, em que uma agenda imperialista está tomando lugar e se sobrepondo aos interesses nacionais.

Para Pakhedi, o presidente sul-africano Cyril Ramaphosa, reeleito em maio deste ano, pertence a um grupo que está no poder desde 1994 (ano do fim do apartheid), quando se iniciam governos neoliberais. “O que eles fazem é proteger os interesses dos nossos antigos colonizadores”.

Na última semana, a África do Sul vive uma onda de violência xenofóbica – pelo menos 10 pessoas foram mortas e 420 presas. O desemprego aparece como um dos principais motivadores da violência contra africanos vindos de outros países. Dados oficiais indicam a marca de 28% da população sem trabalho.

“Estou muito triste por saber que hoje, na África do Sul, a classe classe trabalhadora está se voltando uma contra a outra, uma situação de africanos contra africanos. Não é assim que a gente lida com problemas da África e da África do Sul. As pessoas precisam entender que a nossa crise é uma crise do capitalismo, e que o inimigo é o capitalismo”.

Assim como no Brasil, Pakhedi aponta a desigualdade na distribuição das terras como um dos maiores problemas da África do Sul. “10% da população, brancos, são proprietários de 72% da terra. Por outro lado, 10% da terra é propriedade de 90% da população. E esse é um problema que a gente precisa lidar urgentemente, se quisermos enfrentar a pobreza, a desigualdade, o desemprego, falta de moradia, falta de terra. Essa terra foi roubada da gente. E a maior parte dessa terra continua improdutiva, muito similar ao que acontece aqui”.

*Editado por Fernanda Alcântara

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