por Ricardo Kotscho

Ainda durante a exibição do Jornal Nacional na noite de segunda-feira, pasmo com o que tinha acabado de ver e ouvir da boca do WIlliam Bonner, publiquei dois breves posts no meu Facebook:

“No JN, Bonner já deu um jeito de falar de Lula na matéria sobre queimadas”.

“Qualquer comparação de Lula com Bolsonaro é muita safadeza, uma iniquidade”.

Em poucos minutos, 567 internautas curtiram as publicações e fizeram críticas ainda muito mais duras à Globo em seus comentários. Muitos eu tive que deletar.

Não é de hoje. Nas últimas semanas, todas as vezes que os âncoras e comentaristas da Globo fazem qualquer crítica a Bolsonaro, eles sempre enfiam de algum jeito Lula e o PT na história, como se quisessem mostrar que é tudo a mesma coisa.

É a mesma reação dos bolsominions das redes sociais que sempre perguntam: “E o Lula, hein? Não vai falar nada? No tempo dele era melhor?”

Mas, dessa vez, o Jornal Nacional exagerou na pusilanimidade ao comparar as reações de Lula e Bolsonaro diante do desmatamento da Amazônia.

Colaram duas falas de Lula e Bolsonaro na sequência, totalmente fora de contexto, como se eles fossem iguais.

Lula defendeu a soberania nacional, exatamente o oposto de Bolsonaro, que apenas atacou Alemanha e Noruega, dois países que denunciam a atual política ambiental suicida do governo brasileiro.

Esqueceram de informar que em seu governo foi Lula quem criou o Fundo Amazônia, em parceria com esses dois países, que já doaram mais de R$ 3 bilhões, a fundo perdido, para preservar a floresta.

É tão brutal a diferença entre a política ambiental dos dois governos _ a de Lula, para preservar, e a de Bolsonaro, para destruir _ que não pode ter sido apenas acidental o erro crasso da reportagem.

Bastaria comparar os números dos dois governos sobre desmatamento na Amazônia, mas isso não faz parte do código de ética tão decantado pela emissora.

No governo Lula, tendo como ministra a líder ambientalista Marina Silva, houve uma profunda mudança nos índices de desmatamento, que diminuíram ano a ano.

Agora, no governo Bolsonaro, com o líder do agronegócio e das mineradoras Ricardo Salles, já condenado por crime ambiental, o desmatamento e as queimadas foram liberadas pelo governo, batendo recordes de destruição nos últimos sete meses.

Como a Globo e o Globo até o momento não se dignaram a divulgar a nota do site do Instituto Lula em resposta a essa covarde manipulação da notícia, o Balaio abre espaço para que o ex-presidente se defenda.

“O poder da Globo não lhe dá o direito de continuar mentindo, distorcendo informações ou modificando a história”, diz a nota, reproduzindo um trecho da fala de Bonner, dando conta de que “dois presidentes afirmaram que a Europa destruiu todas as suas florestas e que, por isso, não têm moral para dar conselhos sobre a Amazônia”.

Quem não tem moral nenhuma é a Globo, que deixa de fazer jornalismo, para atender aos interesses políticos e econômicos dos seus acionistas, em campanha permanente contra Lula e o PT.

A nota do instituto informa que “o Brasil obteve recordes de redução do desmatamento no governo Lula, e o tema da matéria, o Fundo Amazônia, que usa recursos da Noruega e da Alemanha, geridos em parceria com o governo brasileiro, foi criado justamente durante o mandato de Lula, em 2008, informação sonegada na reportagem”.

No seu legítimo direito de reivindicar uma retratação da emissora, a nota do Instituto Lula lembra ainda que:

  • O Brasil assumiu no Governo Lula, na Cúpula de Copenhagen, em 2009, a liderança da discussão sobre proteção ambiental e mudanças climáticas no mundo.
  • Na época de Lula, o Brasil combinou expansão da produção agrícola com proteção ao Meio Ambiente, abrindo mercados para as exportações do campo brasileiro. Abertura de mercados agora ameaçada pelo ataque de Bolsonaro contra nossas florestas.
  • O governo Lula também criou o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, para gerir as Unidades de Conservação federais, e ampliou em 52,9% as áreas de proteção ao Meio Ambiente.

O mais grave é que o Jornal Nacional fez esta grosseira manipulação justamente no dia em que a fumaça das grandes queimadas na Amazônia patrocinadas pelo bolsonarismo irresponsável chegou até São Paulo, com o dia virando noite, como nunca se vira antes nesta proporção.

Com a responsabilidade de exibir o telejornal de maior audiência do país, os editores da Globo podem agora repetir a famosa frase de Sergio Cabral na prisão, depois de ser condenado a mais de cem anos por corrupção continuada:

“É… Acho que eu exagerei…”.

Vida que segue.

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