O governo apresentou nesta segunda-feira proposta para o programa substituto do Bolsa Família, o Auxílio Brasil. A notícia foi recebida com preocupação por especialistas em políticas públicas, como mostra reportagem do jornal Folha de S.Paulo. 

Eles concordam que o programa deve ser constantemente aperfeiçoado para reduzir a vulnerabilidade de famílias brasileiras, sobretudo após a crise provocada pelo novo coronavírus, mas chama a atenção a complexidade da proposta.

A MP (Medida Provisória) apresentada pelo governo inclui benefícios de primeira infância na mesma cesta de auxílio ao esporte escolar e iniciação científica e incentivos de inclusão produtiva.

Para Tereza Campello, que foi ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome no governo da presidente Dilma Rousseff (PT), a proposta do governo não é de aperfeiçoamento do Bolsa Família, mas de destruição do programa.

“O Bolsa Família vem sendo melhorado ao longo dos últimos 18 anos. O que eles estão fazendo é destruir o programa, substituindo a sua essência por algo que nunca foi testado”, diz ela.

“Não dá para comparar com o programa em 2014 e dizer que ele está sendo ampliado, é preciso comparar com o que está acontecendo agora no Brasil —e são 39 milhões recebendo benefícios do governo federal.”

Ainda de acordo com a reportagem, Campello acrescenta que a essência do Bolsa Família é ser um programa com foco e de simples entendimento, para facilitar a operacionalização com os municípios. “O governo quer transformar um programa que é simples em algo complicado, desconjuntado e disfuncional.”

Um dos criadores do Bolsa Família, o superintendente executivo do Instituto Unibanco, Ricardo Henriques, também faz uma análise dura da forma como o governo tenta mudar o programa.

“Na época em que coordenamos o projeto, eram vários programas de transferência e era necessário criar uma lógica que alinhasse todos eles, para mitigar a pobreza e criar um vínculo de mobilidade social”, diz.

Fonte: Brasil 247