Em entrevista para a jornalista Marilu Cabañas, da Rádio Brasil Atual, nesta quarta-feira, 20, o ex-presidente Lula se desculpou pela frase “completamente infeliz” dita na última terça em conversa com Mino Carta.
Lula pôde contextualizar o que tentava expressar, sobre a importância do SUS e do Estado, e explicou que utilizou uma frase que não cabia.
“Usei uma frase infeliz, que não cabia naquilo que eu queria falar, para tentar explicar que é no auge da crise que a gente entende a importância do SUS e do Estado. Peço desculpas”, expressou Lula.
O ex-presidente agradeceu à jornalista por ter lido a frase inteira e em seu contexto, em que ele falava que somente o Estado é capaz de resolver os problemas graves que o mercado não é capaz.
Assista a resposta e leia na íntegra abaixo.
“Aqueles que tentaram desvirtuar o que eu falei podem continuar com a má fé de vocês que certamente os bons vencerão”, acusou Lula em menção aos ataques vindos de todos os campos direitistas.
“Não dou o direito à má fé das pessoas que associaram a eu estar comemorando. Que venham tirar proveito de um erro de uma coisa que eles sabem o que eu queria falar”, argumenta.
Lula concede entrevistas recorrentes desde o início do isolamento, mas apenas agora uma fala sua virou notícia da mídia empresarial.
Veja resposta de Lula na íntegra ao ser questionado sobre a frase que repercutiu.
Primeiro quero te agradecer a pergunta, e eu quero te agradecer inclusive você ler a frase inteira para que as pessoas vejam em quê contexto eu falei. Eu, na verdade, ao invés de falar a palavra “ainda bem”, se eu tivesse falado a palavra “infelizmente”, talvez não teria dado nenhum problema. Eu, na verdade, tentei utilizar uma palavra para explicar, sabe, que, depois de tão menosprezado no Brasil, o SUS, desde sua criação em 88, é no auge da crise que a gente começa a descobrir a importância de uma instituição pública que cuida da Saúde. Foi isso que eu tentei dizer, e utilizei uma frase totalmente infeliz, uma frase que não cabia, e se alguma pessoa ficou ofendida, se algum dos 210 milhões de brasileiros ficaram ofendidos… todo mundo sabe que eu acho que a palavra “desculpa” foi feita para a gente utilizar com muita humildade, porque eu sou um ser humano movido a coração e eu sei o sofrimento que causa a pandemia, eu sei o sofrimento que causa a pessoa ver seus parentes serem enterrados sem poder sequer acompanhar. E eu tô preso dentro de casa, eu viajei dia 29 de fevereiro para a Europa, voltei dia 12 e eu não saí mais de casa desde o dia 12 até agora. Nasceu uma netinha minha que já tá com 2 meses e eu não fui ver ainda, eu não fui mais ver meu neto, não fui ver mais meu filho, sabe? Porque eu acredito piamente que enquanto não tiver remédio, sabe, a melhor solução para que a gente evite pegar a doença ou passar a doença para outro é a gente ficar em casa. Eu acredito piamente nisso. Então, se algumas pessoas ficaram ofendidas com a frase, eu peço desculpas, porque a frase não cabia naquilo que eu queria falar. Eu queria apenas mostrar que o estado, o estado, e somente o estado é capaz de resolver problemas graves que o mercado não é capaz de resolver. Quanto teve a crise de 2008, quem resolveu foi o estado, porque o mercado quebrou o Leman Brothers e desapareceu. Agora nós estamos vendo quem tem condições de cuidar, 63% de todos os leitos do SUS foram construídos no meu governo. Eu peço desculpas às pessoas pela frase, sabe, dita, o “ainda bem”, quero dizer que é uma frase que não cabia, duas palavras que não cabiam na frase, mas eu também não posso aceitar a má fé de quem tentou, a partir daí, achar que eu tava comemorando a pandemia. Eu poderia dizer o mesmo do material que eu vi ontem na televisão, eu vi ontem na Globo, mostrando o mar se recuperando em vários lugares do mundo, golfinho voltando, eu poderia dizer “nossa, estão felizes por causa do coronavírus”, não! Eu acho que todos nós, que somos responsáveis, temos que ter uma preocupação enorme, e eu acho que, a partir dessa crise a gente vai ter que aprender a se comportar diferente, a gente vai ter que ser mais solidário, a gente vai ter que ser mais companheiro, a gente vai ter que repartir mais as coisas, o mundo não pode continuar do jeito que era. Eu disse outro dia que o capitalismo não pode mais continuar do jeito que era: meia dúvida ganhando tudo e bilhões não ganhando nada, sabe. Eu, sinceramente, embora eu esteja pedindo desculpas ao povo que pode ter se sentido ofendido, eu não dou o direito a nenhum mau-caráter de má-fé que há 10 anos, 15 anos, só fala mal de mim, venha tirar proveito de uma coisa que ele sabia que eu estava querendo falar. Então, eu, a minha vantagem é que eu tenho 734 anos, conheço muito esse País e o povo me conhece muito, e se tem uma cara que tem sentimento, e que eu dizia isso quando estava governando: se você quer acertar no governo, governe com o coração de mãe, porque não tem nada mais justo que uma mãe no trato com seu filho. E o coronavírus é isso: o estado brasileiro precisa ser a mãe, sabe, da sociedade brasileira. Orientar, não é proibir, é orientar, sabe, para que a gente possa viver dignamente. Então, eu quero aproveitar e ser solidário a todas as pessoas que já morreram, que são vitimados, e quero, a todas as pessoas do mundo, que é o artigo que eu escrevi no Primeiro de Maio, eu espero que depois dessa desgraça toda a gente possa ressurgir com um pouco mais de humanismo, um pouco mais de coração, um pouco mais de solidariedade. E aqueles que tentaram desvirtuar o que eu falei, podem continuar com a má fé de vocês, porque certamente os bons vencerão.”