Em artigo publicado nesta quarta-feira, 8, Elida Elena, vice-presidenta da União Nacional dos Estudantes (UNE, defende “a solidariedade como um valor fundamental na defesa da vida e de um Brasil justo”. Confira o artigo na íntegra e colabore com a Ação de Solidariedade ao Povo Brasileiro – Vamos precisar de todo mundo.

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A solidariedade nos tornará menos solitários

A realidade atual, no Brasil e no mundo, é marcada por uma crise do sistema capitalista associada a uma profunda crise sanitária. E a realidade brasileira é ainda mais grave, pois a eleição de Bolsonaro já havia sido determinante para a implementação de medidas ultraliberais, retirada de direitos sociais e trabalhistas. Tem tocado na pele do povo o aumento da desigualdade, o desemprego crescente, a falta de investimento público em áreas como saúde, educação e habitação e esvaziamento do papel das instituições públicas.

As consequências destas políticas, associadas ao alastramento do coronavírus pelo mundo e pelo Brasil hoje expressam a convergência de crises: econômica, política, sanitária e social.

A crise é dos ricos e o sofrimento é dos pobres

Os impactos da convergência de crises ainda não são completamente possíveis de serem mensurados. Mas já existe a certeza que estes impactos já estão se apresentando de forma mais profunda para os segmentos mais pobres da população. A chegada do Covid-19 no Brasil, somada à forma irresponsável e ineficiente com a qual Bolsonaro e seu governo conduzem a crise, agrava a situação do país e coloca em risco a vida das pessoas.

O presidente se posicionou contra a medida do isolamento social, comprovada por vários países do mundo como a mais eficaz no controle da doença. Além disso, o governo demorou a dar respostas do ponto de vista econômico às famílias brasileiras que ficaram sem trabalho por conta da crise, submetendo o povo brasileiro à uma situação de extrema vulnerabilidade. Pressionamos e conquistamos a iniciativa da renda básica, e ainda estamos na luta para que ela de fato seja paga a quem precisa. Mas ainda precisamos lutar por outras iniciativas, por assistência estudantil, pela diminuição da mensalidade nas universidades privadas, pela suspensão do edital do ENEM.

Precisaremos lutar juntos em defesa do SUS, e pelos setores da sociedade mais vulneráveis, como a população de rua, e os moradores das periferias. E pela derrubada da PEC do Teto de gastos, que foi aprovada mesmo após 1000 escolas e mais de 300 universidades terem sido ocupadas, pois só assim conseguiremos respostas concretas para saúde e educação em meio a tão profunda crise.

E neste momento, onde a ganância dos ricos fala mais alto que a necessidade de salvar vidas, e vemos declarações absurdas dos empresários, nós estudantes brasileiros, devemos ter a solidariedade como um valor fundamental na defesa da vida e de um Brasil justo. A última pandemia que o mundo viveu foi a de 1919, conhecida como gripe espanhola. É anterior a fundação da UNE e, diferentemente do atual momento, em que as universidade públicas têm sido protagonistas em pesquisas, formação, produção de conhecimento contribuindo com as medidas de combate ao coronavírus, o Brasil daquele período contava com uma inserção mínima de universidades. Mesmo sem precedentes históricos que ajudem a nortear nossas ações contra a doença, vale lembrar que o movimento estudantil na América Latina já se utilizou da política de solidariedade para enfrentar momentos difíceis: dos estudantes aos bairros, campanhas de alfabetização no Brasil, dentre outras iniciativa.

Hoje a palavra solidariedade tem sido bastante revisitada. Cuidemo-nos com as falsas declarações de solidariedade, dos que com uma mão doam algumas cifras e posam de pessoas do bem nos jornais e com a outra mão demitem centenas de trabalhadores. A nossa solidariedade deve ser traduzida em atos concretos, uma ferramenta de luta pela sobrevivência do povo, ato de apoio aos que sofrem com as políticas econômicas que privilegiam os mais ricos. Mesmo de quarentena, é possível construir ações, inclusive via entidades estudantis, de arrecadação de alimentos e produtos de higiene, com o armazenamento e distribuição com todos os cuidados de saúde necessários, orientados por protocolos sanitários, como que desenvolveram a FIOCRUZ. E nesse momento os estudantes e as universidade devem estar a serviço do seu povo!

Os estudantes precisam estar organizados mesmo com as universidades de portas fechadas! Cada centro acadêmico, cada grupo de extensão, cada estudante precisa se movimentar, planejar ações de solidariedade, da mais simples com seus vizinhos, até se somarem em amplas campanhas de arrecadação e distribuição de alimentos. Do panelaço, a defesa do SUS, lutar pela vida do povo e pelo Fora Bolsonaro!

*Elida Elena é vice-presidenta da UNE e estudante de história da UFPB.

Publicado originalmente no Site da UNE.