POR FÁTIMA LACERDA, de Berlim, para o DCM

Ao me aproximar do terreno da Casa das Culturas do Mundo, a poucos metros da escada que leva ao terraço e a uma das vistas mais lindas de Berlim, chegava aos meus ouvidos a melodia de “Maracatu Atômico”.

É nesses momentos que parece que o Brasil é logo ali, ao usar a ferramenta da memória cultural-musical. Um outro Brasil, o da realpolitik, vem sendo desmantelado todos os dias, mas a voz de Gil nos remete ao país dos nossos avós.

Tava tudo ali: o Gil, o Chico Science, o mangue beat.

Não é exagero dizer que os deuses ficam em festa quando Gil chega por aqui.

Ele, que é prata da casa, quando agenda show em Berlim, faz questão de que seja na Casa das Culturas, lugar onde atuou como o embaixador da cultura brasileira na época em que era ministro do governo Lula.

O Gil que se mostrou durante a passagem de som com “Maracatu Atômico” era lindo em dose dupla.

O vigor no palco, o solo pauleira depois da última estrofe de “Maracatu” com o filho Bem, surpreendeu a todos que espiavam a passagem do som sentados nas cadeiras de praia e enrolados em cachecóis e protegidos por capas de chuva.

Esbanjando vigor, Gil passou por Berlim numa turnê punk que ainda segue para Lisboa, Munique, Hamburgo, entre outros e termina na Noruega em 13/08.

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No camarim circulavam músicos brasileiros radicados em Berlim, muitos jornalistas com hora marcada e funcionários responsáveis pelo backstage.

Sentados numa cadeira junto à porta de vidro que dava para o jardim, ele estava visivelmente preocupado com o discurso contra a classe artística brasileira.

Alguns minutos mais tarde, já na fila do gargarejo e com uma brasileira do meu lado que tagarelava o tempo todo, a banda de Gil subiu ao palco com um uniforme de um rosa bem discreto e roupas feitas com tecido de linho.

A costureira foi tão sensível, que adaptou os modelitos às pessoas que o vestiam.

Ao contrário de Mílton, em seu show dias antes (05/07), que foi levado ao palco por um assistente e ficou o tempo todo sentado, mostrando saúde muito debilitada, Gil subiu ao palco em Berlim como se estivesse em sua sala de estar e fosse receber convidados esbanjando uma naturalidade impressionante.

A primeira música foi a faixa carro-chefe do disco OKOKOK. Em tom solícito e conversando muito com a plateia, Gil explicava a essência das canções.

A mais longa explicação foi antes de interpretar “Se eu quiser falar com Deus”, dedicada a João Gilberto.

Gil também mencionou o esmero da equipe médica que cuidou dele durante grandes períodos de internação em 2016. “Os sucessos para dançar virão na reta final”, avisou ao público sedento e impaciente.

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Depois do show, um número considerável de brasileiros se amontoava na porta do backstage para falar com Gil, mas ele, Flora e a produtora saíram pelo jardim dos fundos em direção ao hotel, localizado bem pertinho dali.

Ainda assim, houve confraternização dos músicos somada à sensação revigorante e transcendente por termos presenciado um banquete musical.

Abaixo, a entrevista concedida ao DCM:

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