Para desenvolver o tema “O Brasil unido contra o Coronavírus”, foram convidados no Mutirão Lula Livre o psicanalista Christian Dunker, a cientista Jaqueline Goes de Jesus, que faz parte da equipe que sequenciou o genoma do Covid 19 e o ex-ministro da Saúde, Arthur Chioro.

Ao iniciar os debates, o psicanalista Christian Dunker avalia que o negacionismo pregado pelo governo Bolsonaro na pandemia apenas evidencia o tipo de governo que estamos enfrentando. “O governo apenas acentua a política que já estava em curso, que é deixar morrer, não se importando com as políticas públicas”. Para ele, também, a morosidade na elaboração de estratégicas, o desmonte das universidades, a agressividade com o setor científico, o fato de Bolsonaro colocar em dúvida a ciência, é parte dessa estratégia de morte. “Parece falta de eficiência, mas quando chegamos mais perto vemos que é uma política de deixar morrer, é a necropolítica.”

Quem seremos depois da pandemia? Quando perguntado que tipo de pessoas seremos depois da pandemia, o psicanalista avalia que há duas possibilidades: uma é aumentar o egoísmo e o individualismo, onde o outro será visto como perigoso. “Vou me isolar mais ainda, vou tentar me salvar? Se for isso, vai gerar um pós pandemia mais egoísta, mais xenófoba.”

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Por outro lado, diz ele, está posta em evidência a oposição entre vida e economia. “Quer dizer que a economia é incapaz de cuidar das pessoas? Reflexões como essa vão formar o tipo de sociedade que vamos ter depois.”

A importância do sequenciamento do genoma para o combate ao vírus

Em sua fala, a cientista Jaqueline Góes, que faz parte da equipe que sequenciou o genoma do Covid 19 no Brasil, explica que sequenciar é entender as mudanças e adaptações feitas pelo vírus e como o surto vai se encaminhar nos próximos passos. A principal característica do Coronavírus é a alta transmissibilidade. Como a taxa de contaminados que não apresentam sintomas vai de 75% a 80%, muitas pessoas que não se reconhecem como doentes aumentam a dispersão nas comunidades.

Isso explica o fato de o vírus ter se espalhado tão rapidamente em 138 países, incluindo o Brasil. “É por meio do isolamento que reduzimos o número de contágio, permitindo que o sistema de saúde possa atender aos infectados e todas as outras doenças que continuam a acontecer.”

Sobre a mutação do Coronavírus a cientista explica que, em termos científicos, o vírus é o mesmo, mas ele tem a característica de adquirir e fixar mutações. “O vírus varia de duas a três mutações por mês. É o mesmo vírus, mas ele tem marcas nos genomas dos locais onde passou. Ao sequenciar o genoma a gente consegue traçar o caminho desse vírus.”

Jaqueline também explica que o clima não tem influência na biologia. Ele vive muito bem na temperatura corporal que é de 36 a 37 graus. Para que se tornasse inativo, teria que ser exposto a temperaturas muito mais altas.

Sobre uma possibilidade de cura, ela diz que a falta de homogeneidade nas ações governamentais de combate ao vírus dificultam o seu controle. E as vacinas só devem sair em 2021 ou 2022. “Mas para ela ter abrangência, depende dos fatores econômico e de logística para que a imunização em massa possa acontecer.”

A flexibilização do isolamento

Apesar de o Brasil ter superado a Espanha em número de mortos, de ser o quinto país com maior número de vítimas e pelo quarto dia seguido apresentar mais de mil mortes, está havendo um aumento da flexibilização do isolamento social no país.

Para o ex ministro da Saúde, Arthur Chioro, isso demonstra que, para o governo, a vida não tem valor. “Os processos de flexibilização do isolamento começaram a ser tomados quando estávamos reduzindo a taxa de transmissão. A curva epidêmica ainda está em franca explosão.”

Para ele, os governantes estão liberando o comércio por pressão empresarial e já de olho no calendário das eleições municipais. O sistema ainda está sobrecarregado, o Ministério da Saúde não fortalece as políticas de enfrentamento e há uma desmobilização do sistema de saúde nos estados.

Chioro ressalta que a atenção à saúde básica e o Mais Médicos, foram destruídos pelo ex ministro Luis Mandetta, a serviço de Bolsonaro. “Ele poderia ter convocado as universidades e pesquisadores do país para trabalhar nos exames de biologia molecular, mas não foi feito, o resultado é que só testamos casos graves. Podemos ter de 10 a 15 vezes mais casos que os notificados.”

Outras medidas que deveriam ser coordenadas pelo Ministério da Saúde são citadas pelo ex ministro como fundamentais para a redução de mortes, como a utilização do setor industrial na fabricação de equipamentos de proteção, ampliação do número de leitos e qualificação de profissionais para enfrentar o vírus. Ele também critica a ausência de políticas públicas para os mais vulneráveis, falta de abrigo para os que não conseguem fazer o isolamento sem desproteger suas famílias ou local receber os casos leves até passarem os 14 dias mais críticos.

“O Ministério da Saúde está sendo conduzido hoje por pessoas que não tem nenhum conhecimento sobre saúde pública, não tem experiência com o diálogo entre estados e municípios para fazer ações coordenadas. O Ministério está pronto para ser entregue ao centrão a qualquer momento”, avalia.

Chioro finaliza sua participação alertando para as três frentes que o Brasil precisa enfrentar: a emergência sanitária, a imensa desigualdade social e a crise política. “Temos um Ministério da Saúde acéfalo no meio de uma pandemia. O SUS se contrapõe ao próprio presidente, por isso ele tem essa postura de desprezo pela área da Saúde.”